📊 Análise Semanal – Boletim Focus (07/11/2025)
- Alex Lopes

- há 2 dias
- 4 min de leitura
🧭 Introdução
O Relatório Focus é divulgado todas as segundas-feiras pelo Banco Central do Brasil e apresenta as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior.
Ele resume as projeções para inflação, PIB, câmbio, taxa Selic, contas externas e situação fiscal.
Vale lembrar: as projeções são do mercado, não do Banco Central — o Focus funciona como um termômetro das percepções dos agentes econômicos sobre o rumo da economia brasileira.
📈 Panorama Geral
O boletim desta semana (referente às expectativas até 7 de novembro de 2025) mostra estabilidade generalizada nas principais variáveis macroeconômicas.
O mercado mantém o tom de cautela e espera, com poucas revisões e uma leitura ainda conservadora sobre a trajetória da inflação e dos juros.
Apesar da ausência de grandes mudanças, nota-se um viés de preocupação fiscal crescente, especialmente após sucessivas revisões negativas na conta corrente e a dificuldade de convergência do resultado nominal.
💰 Inflação (IPCA)
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é o indicador oficial da inflação no Brasil. Ele mede a variação média dos preços de um conjunto de bens e serviços consumidos pelas famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, abrangendo nove regiões metropolitanas do país.
O índice é calculado e divulgado mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e serve como referência para o regime de metas de inflação adotado pelo Banco Central.
2025: 4,55% (estável)
2026: 4,20% (estável)
2027: 3,80% (estável)
2028: 3,50% (estável)
📌 Análise:
A estabilidade nas projeções reforça o diagnóstico de inflação sob controle, mas ainda resistente.
O IPCA segue acima do centro da meta (3%), refletindo a rigidez dos preços de serviços e a inércia dos administrados — que voltaram a subir levemente para 4,97%.
O consenso de mercado ainda enxerga pressões moderadas no curto prazo, principalmente vindas do setor de energia e combustíveis. A percepção é de que o processo desinflacionário deve seguir lento, o que sustenta a política monetária contracionista por mais tempo.
📊 Atividade Econômica (PIB)
2025: 2,16% (estável há quatro semanas)
2026: 1,78% (sem alteração)
2027: 1,88% → leve recuo
2028: 2,00% (estável)
📌 Análise:
O mercado segue projetando crescimento moderado, com destaque para o consumo das famílias e o setor de serviços como principais vetores de sustentação.
Entretanto, o investimento produtivo segue fraco, refletindo o ambiente de juros altos e incerteza sobre a trajetória fiscal.
O tom geral é de acomodação da atividade, sem sinais claros de aceleração, e com o PIB convergindo para algo próximo de seu potencial.
💵 Câmbio
2025: R$ 5,41/US$ (estável)
2026 a 2028: R$ 5,50/US$ (sem alteração)
📌 Análise:
O real manteve-se estável, acompanhando o comportamento do dólar global.
O mercado entende que a taxa de câmbio está em nível de equilíbrio, mas permanece vulnerável a choques externos e incertezas fiscais internas.
O viés ainda é levemente depreciativo, especialmente se o ritmo de queda da Selic for mais lento do que o esperado ou se houver frustração com o cumprimento das metas fiscais em 2026.
🏦 Política Monetária (Selic)
2025: 15,00% (estável)
2026: 12,25%
2027: 10,50%
2028: 10,00%
📌 Análise:
A trajetória projetada para os juros permanece inalterada, reforçando a percepção de que o Banco Central manterá o ritmo gradual de cortes.
Na última reunião do Copom, o comitê decidiu manter a taxa Selic em 15,00% ao ano, decisão amplamente antecipada pelo mercado. O colegiado justificou a pausa com base na persistência inflacionária e nas incertezas fiscais, destacando que os riscos para o balanço de preços permanecem assimétricos.
Com a inflação mostrando resistência e o cenário fiscal instável, o mercado descarta qualquer movimento brusco de flexibilização monetária.
O consenso segue sendo o de que a taxa Selic não deve cair abaixo de dois dígitos antes de 2028, o que limita o fôlego da atividade e encarece o custo do capital no médio prazo.
🌍 Setor Externo
Conta Corrente: déficit de US$ 72,1 bilhões (piorando)
Balança Comercial: superávit de US$ 62,0 bilhões (estável)
Investimento Direto no País: US$ 70 bilhões (estável)
📌 Análise:
O setor externo segue refletindo a desaceleração global e a retomada gradual das importações domésticas.
O déficit em conta corrente voltou a crescer principalmente devido ao aumento das importações de bens e serviços e à maior remessa de lucros e dividendos ao exterior. Esse movimento reflete a recomposição da demanda interna e o encarecimento do financiamento externo em um ambiente de juros ainda elevados e dólar valorizado.
Apesar disso, o saldo comercial positivo e o ingresso de investimento direto continuam oferecendo algum suporte ao balanço de pagamentos.
O investimento direto permanece resiliente, ainda suficiente para financiar o déficit em conta corrente, mas sem sinais de expansão relevante, o que reforça o alerta sobre competitividade e ambiente de negócios.
💸 Fiscal
Resultado Primário (2025): -0,50% do PIB (estável)
Dívida Líquida do Setor Público: 65,8% do PIB (estável)
Resultado Nominal: -8,5% do PIB (sem mudança)
📌 Análise:
As projeções fiscais continuam sem melhora perceptível.
O mercado demonstra ceticismo quanto à capacidade de reversão do déficit primário e à sustentabilidade do arcabouço fiscal diante da rigidez orçamentária.
A dívida pública estabilizada no curto prazo dá algum alívio, mas as expectativas para 2027 e 2028 seguem apontando deterioração marginal.
O foco dos agentes permanece nas discussões sobre novas fontes de receita e controle de gastos obrigatórios, temas que continuam sem solução política.
🧩 Conclusão – O Desafio Fiscal e a Confiança do Mercado
O boletim Focus desta semana reforça a mensagem de inércia econômica: inflação resistente, juros altos e crescimento modesto.
Não há sinais de crise iminente, mas o risco de complacência é evidente.
O mercado aguarda avanços concretos no campo fiscal — sem eles, o custo de capital permanecerá elevado, limitando o potencial de expansão da economia.
Com o cenário político se aproximando das eleições de 2026, a tendência é de maior volatilidade nas expectativas, especialmente se o governo optar por medidas de estímulo em detrimento da disciplina fiscal.
Em resumo: o país segue estável, porém vulnerável. A combinação de inflação acima da meta, déficit persistente e crescimento baixo mantém a economia em modo de espera — uma estabilidade que, paradoxalmente, revela fragilidade.
🧠 Resumo Executivo
📅 Dados com base no Boletim Focus publicado em 10/11/2025, considerando as expectativas de mercado coletadas até 07/11/2025.
✍️ Análise: Alex Lopes – Economista
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