Ata da 274ª Reunião do COPOM: Selic mantida em 15% e viés de cautela prolongada
- Alex Lopes

- há 1 hora
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🏦 O que é o COPOM e quais são seus objetivos
O Comitê de Política Monetária (COPOM) é o órgão do Banco Central do Brasil responsável por definir a taxa básica de juros da economia — a Selic.
Seu principal objetivo é manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Além do controle de preços, o COPOM também busca suavizar as flutuações da atividade econômica e estimular o pleno emprego, desde que isso não comprometa a estabilidade monetária.
🌎 Atualização da conjuntura econômica: moderação e incerteza
Segundo a Ata da 274ª Reunião do COPOM, realizada em 4 e 5 de novembro de 2025, o ambiente global continua incerto, com destaque para a política monetária dos Estados Unidos e as tensões geopolíticas.
Já cenário doméstico, a economia brasileira apresenta moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho segue aquecido, mantendo pressão sobre os preços, principalmente dos serviços.
A inflação tem mostrado leve desaceleração, mas continua acima da meta oficial de 3%, com as expectativas de 4,5% para 2025 e 4,2% para 2026, de acordo com o Boletim Focus.
⚖️ Cenários e análise de riscos: inflação desafiadora e expectativas desancoradas
O COPOM reforçou que o cenário prospectivo da inflação segue desafiador.
Entre os principais riscos de alta, estão:
Desancoragem das expectativas de inflação;
Resiliência dos serviços, impulsionada pelo mercado de trabalho;
Depreciação do câmbio em caso de desequilíbrio fiscal ou incerteza política.
Nos riscos de baixa, o Comitê destaca uma possível desaceleração mais acentuada da economia e queda das commodities no mercado internacional.
O ponto mais sensível da ata é o alerta de que expectativas desancoradas exigem uma política monetária restritiva por mais tempo. Ou seja, enquanto o mercado não confiar na convergência da inflação à meta, o Banco Central manterá os juros elevados.
💰 Condução da política monetária: Selic em 15%
O COPOM decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, avaliando que esse patamar é suficiente para promover a convergência da inflação à meta, desde que mantido por um período prolongado.
Apesar do início de uma moderação na atividade e do recuo da inflação corrente, o Comitê deixou claro que permanecerá vigilante e não hesitará em elevar novamente os juros, se houver necessidade.
O viés é, portanto, de cautela e continuidade — o Banco Central acredita que a paciência e a firmeza são essenciais para restaurar a confiança e ancorar expectativas.
🧭 O viés da ata: paciência e firmeza na política monetária
Diferente das atas anteriores, marcadas por um tom mais crítico ao ambiente político, a 274ª ata adota uma abordagem mais conservadora e técnica, focada na disciplina da política monetária e na manutenção da credibilidade do Banco Central.
Ao enfatizar “perseverança, firmeza e serenidade”, o COPOM envia um sinal claro ao ambiente político, especialmente aos aliados do governo federal, de que a autonomia do Banco Central é inegociável. A mensagem implícita é que a condução da política monetária deve permanecer técnica e independente, imune a pressões externas e focada exclusivamente no controle da inflação.
Dentro dessa perspectiva, o Comitê reforça que a manutenção da restrição monetária e da taxa básica em patamar elevado será necessária enquanto a inflação não apresentar sinais consistentes de convergência para a meta. A postura, portanto, é de prudência e continuidade, priorizando a credibilidade da política monetária em detrimento de eventuais demandas políticas de curto prazo.
Em síntese, o COPOM deixa claro que prefere pecar pelo excesso de cautela a antecipar cortes na Selic e comprometer o processo de desinflação e a confiança conquistada junto ao mercado e à sociedade.
📉 Consequências de uma Selic tão elevada
Manter a Selic em 15% ao ano traz benefícios e custos claros:
Efeitos positivos:
Reduz a pressão inflacionária;
Fortalece o real;
Atrai capital estrangeiro.
Efeitos negativos:
Crédito mais caro e restrito para empresas e famílias;
Desestímulo ao investimento produtivo;
Aumento dos custos fiscais da dívida pública;
Risco de desaceleração econômica e impacto no emprego.
Na prática, juros tão altos funcionam como um freio prolongado sobre o consumo e o crescimento, com repercussões diretas sobre o PIB e o bem-estar da população.
📊 Taxa real de juros: quanto custa o dinheiro no Brasil hoje
Com a Selic nominal em 15% e a inflação projetada em 4,5%, a taxa real de juros é de aproximadamente 10,05% a.a.
Mesmo entre as economias emergentes, o Brasil figura no topo do ranking mundial de juros reais, superando países como México, Índia e Chile.
Apenas economias com inflação cronicamente descontrolada, como Turquia e Argentina, superam o patamar brasileiro — mas com características macroeconômicas muito distintas.
Esse diferencial reflete o prêmio de risco elevado e a cautela das autoridades monetárias diante de incertezas fiscais e políticas internas.
🧩 Conclusão: credibilidade versus crescimento
A 274ª ata do COPOM deixa claro que o Banco Central aposta na manutenção prolongada da Selic em 15% ao ano como principal instrumento para ancorar as expectativas de inflação e restaurar a confiança no compromisso com a estabilidade de preços.
A mensagem é de disciplina, paciência e perseverança, ainda que o preço a pagar seja um crescimento econômico mais lento e um ambiente de negócios mais restrito.
Os juros são o remédio clássico para conter a inflação: ao encarecer o crédito e desestimular o consumo e o investimento, reduzem a demanda e, consequentemente, a pressão sobre os preços. No entanto, como todo remédio, os efeitos colaterais são significativos. A política monetária restritiva atinge praticamente todos os setores produtivos, elevando o custo de capital, retraindo a oferta de crédito e freando o ritmo da economia real.
Entre os segmentos mais sensíveis, a indústria e o varejo figuram entre os mais afetados — a primeira pela perda de competitividade e aumento do custo financeiro, e o segundo pela desaceleração do consumo das famílias.
Nesse contexto, o desafio do Brasil não se limita à condução da política monetária, mas também à coordenação com a política fiscal. Sem um compromisso firme com responsabilidade fiscal, controle de gastos e previsibilidade das contas públicas, o esforço do Banco Central tende a ser parcialmente anulado. Um cenário fiscal incerto eleva o risco-país, pressiona a curva de juros futuros e mantém as expectativas de inflação desancoradas, exigindo taxas ainda mais altas para conter os preços.
Portanto, a política fiscal precisa caminhar em sintonia com a monetária — oferecendo um ambiente de estabilidade e confiança que permita, gradualmente, a redução dos juros sem comprometer o controle inflacionário. Esse equilíbrio é o ponto nevrálgico da retomada econômica.
Em síntese, o Banco Central opta por preservar a credibilidade e a estabilidade, mesmo diante do custo de um crescimento contido. O grande desafio para o país, daqui em diante, será encontrar o ponto de inflexão entre austeridade e estímulo, garantindo que a cura da inflação não se transforme em um entrave duradouro à expansão da economia real.
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