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A Auditoria Interna como Pilar Esquecido nos Relatórios Integrados: Por que Isso Precisa Mudar

Com o fim do ano civil batendo à porta, chega também a temporada em que as empresas que detêm tal obrigação, precisam abrir suas cortinas e mostrar ao mercado suas informações financeiras auditadas. Nada novo no front — essa liturgia corporativa já faz parte do calendário empresarial há décadas. Contudo, de uns anos para cá, um novo player entrou em cena: os relatórios ESG.


Enquanto alguns setores ainda enxergam essa pauta como “tendência passageira”, ou mesmo modinha, o mercado, especialmente o financeiro, já entendeu que tratar de sustentabilidade, impacto social e governança não é firula, é estratégia.

Transparência virou ativo. E relatório ESG, queira a organização ou não, virou cartão de visitas para investidores cada vez mais criteriosos.


Mas, nesse cenário, há um componente silencioso — quase invisível — que deveria estar na vitrine: a Auditoria Interna. Uma área estratégica, mas tratada como se fosse apenas um centro de custo burocrático. E isso precisa mudar.


🌍📊 ESG: Um Breve Histórico e Por Que Esse Tema Deixou de Ser Opcional


ESG é a sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança (Environmental, Social and Governance), ou seja, um conjunto de critérios usados para avaliar o desempenho e o impacto de uma empresa além dos resultados financeiros, focando em sustentabilidade, responsabilidade social e transparência na gestão, sendo essencial para investidores e para a reputação corporativa moderna, atraindo talentos e capital, ele surgiu em 2004, num relatório do Pacto Global da ONU com o Banco Mundial, chamado Who Cares Wins.


A premissa era simples e ousada: empresas que cuidam bem do ambiente, das pessoas e da governança tendem a performar melhor no longo prazo.


Isso caiu como uma luva para investidores que buscavam métricas mais robustas para medir risco. Afinal, lucro sem sustentabilidade virou um negócio arriscado demais.


Atualmente ESG significa

 

  • Ambiental: impacto no clima, uso de recursos e resíduos.

  • Social: relação com funcionários, clientes, fornecedores e comunidades.

  • Governança: ética, controles, transparência e gestão responsável.


Mesmo sem obrigatoriedade universal, adotar práticas ESG traz vantagens corporativas bem pragmáticas:


  • Atrai capital: investidores querem empresas sólidas e previsíveis.

  • Gera valor: melhora imagem, atrai talentos e reduz custos.

  • Competitividade: ESG virou critério básico no jogo empresarial global.


Em outras palavras: quem não reporta ESG, reporta risco.


🎯🌍 Os ODS da ONU e Sua Relação com o ESG


Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criados na Agenda 2030 da ONU, formam o mapa global da sustentabilidade. São 169 metas que abordam desafios como pobreza, educação, energia limpa, igualdade, inovação, crescimento econômico e governança.


O curioso — e pouco discutido — é que o “G” do ESG aparece de forma transversal em quase todos os ODS. Sem governança forte, nenhum objetivo avança.


E justamente aí entra a Auditoria Interna.

 

📘🌐 Relatórios ESG e o Papel dos Modelos GRI, SASB, TCFD e Outro


Os relatórios ESG seguem metodologias reconhecidas internacionalmente — GRI, SASB, TCFD, entre outras. Não há “um formato único”, mas há padrões que orientam o que deve ser mensurado, divulgado e comparado.


Cada framework traz suas lentes:


  • GRI → foco amplo em impacto.

  • SASB → materialidade setorial.

  • TCFD → riscos e cenários climáticos.


E nos últimos anos, muitas empresas passaram a adotar o conceito de Relatório Integrado.


Essa abordagem unifica finanças + ESG + estratégia. Resultado: mais clareza, mais contexto, mais informação para o mercado.


Essa tendência é positiva. Mas ainda incompleta.


Há um vácuo evidente — especialmente no pilar Governança.

 

🛡️📊 Governança: O Pilar Mais Estruturado, Mas Nem Sempre o Mais Bem Contado


Governança corporativa é um campo antigo, tradicional e amplamente discutido. Não é moda. É arcabouço. Fala-se de:


  • ética e integridade,

  • estrutura de liderança,

  • independência dos conselhos,

  • políticas anticorrupção,

  • transparência fiscal,

  • equidade no tratamento dos acionistas,

  • qualidade das divulgações financeiras.


Até Harvard já desenvolveu metodologias específicas para medir governança — tamanho do interesse global no tema.


É curioso, então, perceber como esse pilar, tão antigo e amadurecido, às vezes ganha um tratamento quase burocrático nos relatórios ESG: organogramas estáticos, descrição genérica de comitês, menções rápidas a conselhos, compliance e riscos.


E a Auditoria Interna? Quase um figurante.


🔎🏛️ A Auditoria Interna: O Elo Esquecido do Relatório Integrado


Aqui vai a parte crítica, no meu entendimento — com todo o pragmatismo corporativo necessário de um bom economista.


A Auditoria Interna é — ou deveria ser — um dos principais pilares de governança. Cabe a área de Auditoria Interna:


  • avaliar riscos,

  • testar controles,

  • recomendar melhorias,

  • monitorar os procedimentos de compliance,

  • apontar vulnerabilidades,

  • prestar consultoria,

  • reforçar a proteção do patrimônio,

  • aumentar a confiabilidade das informações divulgadas ao mercado.


E, no entanto, no relatório ESG ou Integrado, raramente aparece com destaque.


Na melhor das hipóteses, ganha uma menção lateral. Na pior, desaparece totalmente.


E isso ocorre não porque sua atuação seja pequena — mas porque a área não sabe se comunicar bem.


Auditoria Interna, historicamente, fala “para dentro”. E ESG exige falar “para fora”.


A ausência dessa voz no relatório é um desperdício estratégico:


  • reduz percepção de governança sólida;

  • deixa investidores no escuro sobre como riscos são monitorados;

  • perde a chance de mostrar maturidade organizacional;

  • impede que a área demonstre impacto, valor e resultado;

  • dificulta aprovações de budget, pessoas, ferramentas e tecnologia.


No fim do dia, quando a auditoria não aparece, a empresa perde reputação e a área perde investimento.


📢🔎 Por Que Mostrar a Auditoria Interna no Relatório ESG Importa


Em um mercado em que confiança é a moeda mais valiosa, auditores internos são agentes de credibilidade. Quando sua atuação é transparente e divulgada, a empresa ganha:


  • Reforço da governança: auditoria ativa = riscos menores.

  • Atração de investidores: demonstra solidez e maturidade.

  • Melhor posicionamento ESG: especialmente no pilar G.

  • Mais recursos internos: fica evidente que auditoria não é custo, é proteção.

  • Quebra do estigma: deixa de ser “área burocrática” e vira “área estratégica”.


Se há um espaço nobre para mostrar isso ao mercado, é o Relatório Integrado. Mas para que isso aconteça, a auditoria precisa deixar a postura tímida e assumir seu protagonismo.


📍🏁 Conclusão


Embora os relatórios ESG — sejam eles exclusivamente de sustentabilidade ou na forma de Relatório Integrado — ainda não sejam uma obrigatoriedade universal, a régua do mercado está subindo. Setores específicos já têm exigências regulatórias formais, e a tendência aponta para uma expansão gradual dessa obrigatoriedade. É aquela velha máxima corporativa: hoje é recomendação, amanhã vira regra, portanto, quem não se adiantar, fica para trás.


Da mesma forma, é preciso reconhecer um fato incômodo: nem todas as empresas são obrigadas por lei a manter uma área de Auditoria Interna. E esse é um ponto que beira o paradoxo. Se a governança corporativa se apoia justamente em controles, supervisão e mitigação de riscos, como sustentar que uma empresa possa operar sem um mecanismo formal de auditoria?


Ainda que a legislação não exija, deveria ser uma boa prática adotada por qualquer organização que pretenda se posicionar como madura e confiável — independentemente de porte, segmento ou complexidade operacional.


Mas mesmo quando a área existe, há outro problema crônico: a comunicação. O auditor interno domina técnicas, conhece processos, circula por toda a organização, enxerga riscos antes que eles explodam — mas fala pouco. Ou fala para dentro. E isso tem um custo alto. No mundo corporativo, quem não comunica não existe.


Não se trata de divulgar informações sigilosas nem de abrir planos de auditoria ao público — isso seria contraproducente. Trata-se de comunicar-se de forma institucional, estratégica, divulgar o valor entregue: projetos estruturantes, aprimoramentos de controles, ganhos de eficiência, mapeamento de riscos emergentes, consultorias internas, melhorias implementadas graças às recomendações da área. Tudo isso pode e deve ser contado. De forma responsável, mas contada.


Hoje, em muitos relatórios, a Auditoria Interna aparece apenas como uma linha solitária no organograma. Uma caixa. Um quadradinho. Um nome. E isso não apenas subestima o papel da área — mas envia ao mercado a mensagem errada: a de que ela é coadjuvante quando, na prática, deveria estar entre as protagonistas do pilar de Governança.


A verdade é que nenhum relatório ESG fala seriamente de governança se não der visibilidade à Auditoria Interna. Ignorar essa área é abrir mão de mostrar o que a empresa faz nos bastidores para garantir transparência, robustez, segurança e ética — justamente os elementos que investidores mais buscam.


Num ambiente em que capital segue para onde há previsibilidade e controle, a Auditoria Interna precisa ocupar seu espaço. Precisa se posicionar. Precisa mostrar que vai além do checklist e do carimbo. Que opera como parceira estratégica do negócio, antecipando riscos, protegendo valor e fortalecendo processos.


No fim das contas, governança forte não é construída apenas com organogramas e comitês. Isso é o layout. Governança real nasce da atuação concreta, diária, técnica e independente de todos na organização.


Cabe a Auditoria Interna criar uma narrativa institucional. Falta contar essa história ao mercado e não somente as áreas internas.


E quando a Auditoria Interna começar a comunicá-la de forma clara, estratégica e consistente, deixará definitivamente de ser vista como custo e passará a ser reconhecida como aquilo que de fato é: um dos pilares mais importantes da perenidade e da credibilidade corporativa.

 

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